terça-feira, 27 de março de 2012

Só pra contrariar eu fui lá na favela...

Sempre tive vontade de conhecer o Rio de Janeiro, porém nunca tive a oporturnidade. Até que um dia, a faculdade que estudava realizou um Simpósio de Psicologia na Cidade Maravilhosa.
Tudo aconteceu como eu sempre sonhei...ficar num albergue com uma galera sem lenço nem documento.
Na verdade o tal do Simpósio nunca me conheceu, já o Rio...
Como uma boa turista, fiz todos os passeios idealizados, porém um específico ficou marcado.
Conheci a camareira, super gente fina, vou chamá-la de Rosinha. Ela morava no morro do Pavãozinho, uma comunidade que ficava atrás do Albergue.
No dia seguinte que chegamos ao Rio, os estudantes deram uma festa e a Rosinha foi convidada com outra amiga. As duas não curtiram muito a festa, estavam achando elitizada demais, mas era só na percepção delas, já que só tinham estudandes desencanados.
Então foi aí que aconteceu o lance mais maluco da minha vida. A Rosinha me chamou para ir num Baile Funk, que lá se sentiria mais a vontade. Porém, eu precisava subir com ela o morro do Pavãozinho, onde elas viviam, para que pudessem trocar de roupa e colocassem algo mais apropriado para o baile.


Bom, eram 22:00h e lá estava eu, com minha irmã ( que estava nessa viagem comigo), uma colega da faculdade, a Rosinha e a tal amiga, subindo o morro.
Na subida, vi algumas coisas interessantes como, o bondinho que transportava os moradores que moravam nas partes mais altas, a vista mais linda do Rio de Janeiro e muita gente na rua que ficava me olhando e me comprimentando. Posso dizer que nunca fui tão bem tratada e respeitada quanto fui por essas pessoas.
Claro que vi outras coisas chatas como usuários de drogas correndo entre os becos, traficantes com armas na cintura e nas mãos, falando em celulares, homens com metralhadoras em postos de segurança e muita sujeira e pobreza.
Nesse choque de realidade, eu tive a idéia de tirar algumas fotos e até filmar. Consegui, mas tomei uma bronca daquelas. A Rosinha me proibiu, disse que isso não era permitido fazer ali.



De qualquer maneira, conheci algumas pessoas interessantes, como a cunhada do dono do morro, o tiozinho do boteco que pagou cerveja pra gente na calçada e outras pessoas que, como já disse, foram muito bacanas.
Descemos o morro, minha irmã me chamou de maluca e decidiu não me acompanhar. Fomos para o tal Baile, o primeiro da minha vida ( também foi a primeira vez que fui em uma comunidade). 
Às 24h lá estava eu, num ônibus em Copacabana, com a Rosinha e a cunhada do dono do morro indo para um Baile Funk que até então pensamos que seria no Morro da Dona Marta.
Enquanto estávamos no ônibus entraram 2 amigos das meninas e disseram que teria um baile melhor na favela do Jacarezinho. Elas perguntaram se eu queria ir, eu disse que estava na mão delas. E assim, para lá fomos.
Num determinado trecho do caminho, um desses colegas me ofereceu uma tal de Desirré. Na minha ingenuidade perguntei o que era aquilo, ele respondeu rindo que era muito bom, um baseado com cocaína. Me assustou um pouco, nada que ele percebesse, só agradeci:  "Não, obrigada!"
Depois de 2h de busão, às 2h da manhã, chegamos a tal favela do Jarezinho. Estava morrendo de vontade de ir ao banheiro. Então, um deles disse que precisava tirar água do joelho e eu disse que precisava também. Não sei porque, mas ele se matou de rir.


Perguntei se lá no baile tinha banheiro e aí ele riu mais ainda....disse que eu teria q fazer xixi na rua mesmo. Como não tinha jeito, pedi para ele não olhar e disse: "Moço, por favor, não olha pra trás" - e eles não olharam mesmo!! Depois disso ficaram tirando sarro da minha cara falando "moço, moço...."
Quando eles disseram que tinham "uma paradinha" parar resolver, entendi que se tratava de traficantes...
Eles ficaram com a "paradinha" deles e nós fomos para o baile.
Para quem demou 2 horas para chegar, não ficamos nem 1 hora na festa. Sinceramente eu não curti muito o som..rss. O ambiente estava um "pouco" pesado. Metralhadoras, drogas, sexo, estava tudo liberado, mas acho que eu não estava no clima...rsss
Nessa comunidade vi muitas tristezas, como crianças com apelo sexual andando no meio daquela zona toda. Me deu muita dó.
Mas tudo tem o outro lado. As meninas que estavam comigo, também pesavam como eu, eram trabalhadoras, honestas e gostavam de se divertir, mas o exagero e a degradação humana também as perturbou. Interessante que ninguém nesse baile olhou para mim, na verdade até me incomodou, será que os homens daquele lugar me acharam feia? Mas de fato elas me explicaram que eles não olhavam mesmo, porque isso podia dar até morte, afinal de contas, eu poderia ser a namorada de um deles.
Tivemos um papo interessante sobre moda e beleza. Por exemplo, elas repararam que as mulheres do Jacarezinho (zona norte) não faziam chapinha no cabelo e as garotas das favelas da zona sul, onde viviam, se vestiam melhor.
Enfim, foi uma experiência maravilhosa, única, em que em nenhum momento me senti ameaçada. Tive o privilégio de passar por tudo isso, que não é para qualquer pessoa, mesmo porque para entrar em qualquer favela, naquela época (antes das UPPS) tinha que ter autorização. A Rosinha me falou que até o namorado dela tinha dificuldade para subir o Pavãozinho porque ele era de outra comunidade.


Fiquei no Rio 03 dias, (os dias do Simpósio), mas o que eu vivi, valeu por qualquer curso. Alías, dei esse depoimento para meus colegas, que queriam subir o morro e foram impedidos, e que mais tarde utilizaram essa experiência em seus Trabalhos de Conclusão de Curso.

Desperates advertem: Experiências como estas podem colocar sua vida em perigo.




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